Da maldição do Faraó à cura do câncer: o incrível poder do fungo Aspergillus Flavus

Marcelo Vivacqua

Marcelo Vivacqua

A ciência versus o negacionismo: quando o medo supera os fatos.

A famosa "maldição do Faraó Tutancâmon", que supostamente matou pesquisadores como Lord Carnarvon e Howard Carter após a abertura da tumba em 1922, tinha uma explicação científica: o fungo Aspergillus flavus. Esse microrganismo, encontrado em matéria orgânica em decomposição, libera aflatoxinas – substâncias tóxicas que, quando inaladas em ambientes fechados como tumbas antigas, podem causar graves infecções pulmonares.

Por anos, acreditou-se em uma maldição sobrenatural, mas hoje, em um reviravolta fascinante, pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (NCI) dos EUA e da Universidade de Manchester estão transformando esse mesmo fungo em uma arma contra o câncer. Saiba mais sobre a "maldição" e a ciência por trás dela nesta reportagem:

URL de vídeo inválida: https://www.youtube.com/watch?v=7GnAb-zb-do

Estudos liderados pelo Dr. David Perlin, do Hackensack Meridian Health Center for Discovery and Innovation, revelaram que compostos derivados do Aspergillus flavus têm propriedades antitumorais promissoras. Em pesquisas publicadas na revista Nature Cancer, a equipe demonstrou que moléculas modificadas desse fungo podem induzir a morte de células cancerígenas, especialmente em tumores resistentes a quimioterapia.

A descoberta ganhou destaque após testes bem-sucedidos em câncer de pâncreas, um dos mais agressivos.

O que era uma ameaça mortal agora inspira inovações na oncologia. Instituições como o MD Anderson Cancer Center já estão em fase de testes clínicos com derivados do fungo, enquanto a Universidade de Harvard investiga seu potencial na imunoterapia.

Essa história, que começou com um mistério arqueológico, mostra como a ciência pode transformar até os maiores vilões da natureza em aliados da saúde. Quem diria que o mesmo organismo que assombrou o Vale dos Reis um dia ajudaria a escrever um novo capítulo na luta contra o câncer?

Assim como no passado os céticos atribuíram as mortes no Vale dos Reis a uma maldição imaginária, hoje vemos um movimento perigoso de negacionistas que, sem qualquer embasamento científico, espalham desinformação sobre vacinas – desde supostos "efeitos colaterais catastróficos" até teorias conspiratórias absurdas.

The Pharaoh's curse
The Pharaoh's curse

Essa postura anticiência, amplificada pelas redes sociais, já tem consequências reais: o sarampo, doença eliminada nos EUA em 2000, voltou a causar surtos, e o Brasil, que era referência em erradicação da poliomielite, agora enfrenta o risco de seu retorno devido à queda na cobertura vacinal.

A história se repete: no século XX, arqueólogos morreram porque ignoraram os riscos reais do Aspergillus flavus; no século XXI, pessoas adoecem porque preferem acreditar em mitos a seguir a medicina baseada em evidências. A diferença é que, desta vez, as vítimas não são exploradores de tumbas, mas crianças desprotegidas por escolhas ideológicas de adultos que trocam a ciência pelo sensacionalismo.