O sétimo continente: a grande mancha de lixo do pacífico e seus desafios globais

Marcelo Vivacqua

URL de vídeo inválida: https://www.youtube.com/watch?v=bMncyN_C-pQ
Como Presidente e fundador da Associação Brasil Internacional dos Inventores, Cientistas e Empreendedores Inovadores – ABIPIR abordarei neste artigo um tema relevante e preocupante, visto se tratar do futuro do planeta e das próximas gerações: a poluição causada pelo plástico.
Nossa preocupação tem sido constante ao longo dos 14 anos de existência em apoiar, divulgar e publicizar iniciativas que promovam a sustentabilidade e o bem-estar das pessoas por meio da inventividade e criatividade aplicadas à resolução ou mitigação de desafios que afetam o planeta e, consequentemente, a vida das pessoas.

Por este motivo estamos na 14ª. edição do InnovaCities – Feira Internacional de Cidades Inteligentes, Humanas, Alegres e Resilientes que ocorrerá de 15 a 17 de setembro na belíssima cidade de Foz do Iguaçu. Saiba mais sobre o evento e como ele se alinha ao tema deste artigo: https://innovacities-abipir.org.br/es/inicio/
No vasto oceano pacífico norte, entre a costa da Califórnia e o Havaí, existe um território que não aparece em nenhum mapa. Não é feito de terra firme, mas de um aglomerado colossal de detritos humanos, principalmente plástico. Conhecida como a grande mancha de lixo do pacífico (GPGP, na sigla em inglês), esse "sétimo continente" é um símbolo alarmante da crise global de poluição plástica e uma ameaça tangível à saúde do ecossistema marinho e, consequentemente, à saúde humana.
O que é a grande mancha de lixo do pacífico?
Diferente da imagem de uma ilha sólida de lixo, a mancha é mais acuradamente descrita como uma "sopa de plástico". É uma zona convergente de correntes marítimas rotativas (um giro oceânico) que captura e concentra detritos de todo o pacífico. Estima-se que cubra uma área de 1,6 milhão de quilômetros quadrados – equivalente aos estados do amazonas, Pará e minas gerais juntos – e contenha mais de 1,8 trilhão de pedaços de plástico, pesando aproximadamente 80 mil toneladas. Os resíduos variam de redes de pesca fantasma e garrafas a incontáveis fragmentos microscópicos.
Os riscos para o planeta e para a saúde humana
O perigo representado pela mancha de lixo vai muito além da poluição visual. Seus impactos são profundos e cascateiam pela cadeia alimentar.
1.Ameaça à vida marinha: Animais como tartarugas, baleias, golfinhos e focas ficam emaranhados em redes e linhas de pesca abandonadas, levando a ferimentos, amputações ou morte por afogamento. A ingestão de plástico é comum entre aves marinhas, peixes e outras espécies, que confundem os pedaços coloridos com comida. Isso causa obstrução intestinal, sensação de falsa saciedade (levando à inanição) e liberação de toxinas no organismo do animal.
2.O perigo invisível: os microplásticos: Com a ação do sol, do sal e das ondas, os plásticos maiores se fragmentam em pedaços menores que 5mm, os microplásticos. Estes são o coração do problema. Eles são ingeridos por organismos na base da cadeia alimentar, como o plâncton, e bioacumulam-se à medida que sobem na cadeia. Peixes pequenos comem plâncton contaminado, peixes maiores comem os pequenos e, finalmente, chegam ao ser humano que consome frutos do mar.
3.Riscos à saúde humana: A ciência ainda está investigando os efeitos completos dos microplásticos na saúde humana, mas as evidências preliminares são preocupantes. Os plásticos podem liberar químicos disruptores endócrinos, como o bisfenol a (bpa) e ftalatos, que estão associados a problemas hormonais, reprodutivos e até certos tipos de câncer. Além disso, os microplásticos atuam como "esponjas", absorvendo toxinas persistentes da água do mar (como pesticidas e metais pesados) e transportando esses poluentes para dentro dos tecidos dos organismos que os ingerem.
Medidas de controle em andamento
Vários países e blocos econômicos estão implementando políticas ousadas para combater a poluição plástica na fonte:
- Proibições e restrições: A união europeia baniu itens de plástico de uso único como pratos, talheres, canudos e cotonetes. O Canadá implementou uma proibição semelhante. Diversos países africanos e asiáticos também proibiram sacolas plásticas.
- Princípio do poluidor-pagador: A ue está na vanguarda da responsabilidade estendida do produtor (rep), que obriga fabricantes a cobrirem os custos de gestão e limpeza dos resíduos que geram. Isso inclui esquemas de logística reversa.
- Incentivos econômicos: Muitas nações implementaram sistemas de depósito-retorno para garrafas pet e latas, taxando o produto no ato da compra e reembolsando o valor após a devolução. Isso estimula a reciclagem e reduz o lixo.
Para além da educação ambiental: medidas para mitigar o problema
A educação é fundamental, mas insuficiente sozinha. São necessárias ações mais estruturais e tecnológicas:
1.Inovação em materiais: Investimento massivo em pesquisa e desenvolvimento de bioplásticos verdadeiramente biodegradáveis (que se decomponham em condições ambientais naturais, não apenas industriais) e em materiais alternativos derivados de algas, fungos (micélio) e outros compostos orgânicos.
2.Políticas de economia circular: Os governos devem criar marcos legais que incentivem modelos de negócio baseados na reutilização e no refil. Isso inclui subsidiar empresas que adotem embalagens retornáveis e criar infraestrutura para a "logística reversa" em grande escala, tornando mais fácil devolver embalagens do que descartá-las.
3.Tecnologias de coleta e recuperação: Apesar de complexo, o desenvolvimento de tecnologias para remover os plásticos já presentes no oceano deve continuar, como as barreiras flutuantes e sistemas de coleta passiva (e.g., projetos como the “Ocean Clean up”). No entanto, o foco principal deve ser interceptar o plástico nos rios, principais vias de transporte do lixo para os oceanos. Barreiras fluviais e barcos coletores são soluções mais eficientes e menos custosas.
4.Regulamentação da indústria: Estabelecer metas obrigatórias de conteúdo reciclado para novas embalagens plásticas. Isso cria um mercado garantido para o material reciclado, valorizando a cadeia da reciclagem e reduzindo a demanda por plástico virgem.
5.Incentivos fiscais verdes: Reduzir impostos para produtos e empresas que demonstrarem práticas sustentáveis em seu ciclo de vida completo e aumentar significativamente a tributação sobre a produção de plástico virgem, refletindo seu verdadeiro custo ambiental.
A grande mancha de lixo do pacífico é um sintoma grave de um modelo de consumo descartável insustentável. Seus perigos, especialmente através dos microplásticos, representam uma ameaça silenciosa e onipresente à vida no planeta. Enquanto a educação ambiental é crucial para mudar mentalidades, a solução definitiva requer uma transformação sistêmica: uma combinação de legislação rigorosa, inovação tecnológica disruptiva, incentivos econômicos inteligentes e uma transição global em direção a uma economia circular.
A ação deve ser urgente e coletiva, envolvendo governos, indústria e cidadãos, pois o plástico no oceano é um problema de todos, estejam eles na costa ou não.